Corro.
Sim corro.
Ainda não parei de correr.
Devo de estar a correr até ao limite da minha loucura.
Corro.
Sim corro.
Sempre com um ar assustado
Olhando vezes sucessivas para trás.
As ruas estão desertas
E eu vejo pessoas iguais a mim por toda a parte
A mesma cara…
O mesmo cabelo…
A mesma roupa…
Olham-me de lado
Riem-se para mim de forma maléfica,
E começam a perseguir-me
A correr com uma velocidade incalculável atrás de mim.
Corro por estas ruas
Em que nada mais se ouve
Para além do som dos sapatos
Dos meus, e das pessoas iguais a mim…
Som ensurdecedor e assustador
Devido a esta corrida sem fim.
Corro sempre a gritar por socorro.
Quem sabe se não existirá ainda alguém
Aqui, sem que seja igual a mim?
Mas com o passar do tempo
E já com a exaustão do corpo
A esperança parece dissipar-se
E em vez dela, a impressão que eu tenho
É que serei eu a última a morrer.
Já não aguento…
O meu corpo já não aguenta mais…
Mas o deles, parece nunca se cansar.
Esbarrei-me agora contra alguém.
Olho.
Os meus olhos estão mais abertos que nunca
E sem pestanejar.
Devido a este medo, a este pânico que me consome
Passo após passo…
E a este frio que sinto que ao meu corpo está a tomar.
Esbarrei-me contra mim.
Ou contra alguém idêntico a mim.
Os outros, que insistemente corriam atrás de mim
Cercam-me.
E eu no meio de pessoas iguais a mim olho em redor
Sempre receando algum movimento
E julgando ser este o meu fim.
Começam-se a aproximar
Sempre com o mesmo olhar
Com aquela maldade nos olhos
Começo a baixar-me
Como se isso me adiantasse de muito…
Pois não há forma de defender-me…
Tapo a cabeça com as mãos
E cerro os olhos com muita força,
Com muito medo.
Sinto a respiração desses seres a aproximar-se de mim…
Penso “estou a segundos do meu fim…”
E de um momento para o outro
Nada mais consigo ouvir.
Ganho forças, coragem, ou o pouco que restava dela e
Abro os olhos
Já nada me cercava
E as ruas tinham voltado a ser movimentadas.
Começo-me a levantar
Olhando para as pessoas
Levanto-me lentamente
Esperando que de nada se tenham apercebido.
Não entendo o que se passou
Eu não estou a dormir…logo não estou a sonhar.
Estou aqui na rua…
As pessoas estou a ouvir e o vento no rosto a sentir.
“O que se passou?”
Pergunto-me sucessivamente.
Terei eu medo de ser perseguida?
Ou medo de mim?